Depois de ler o que Mariana escreveu, de ver a sensibilidade com que descreveu o seu, o nosso processo e sua infância também lembrei da criança que fui. Impossível não lembrar. Creio que a característica de que mais me lembro e que é também a mais presente na Ana de hoje é a curiosidade. Olhava o mundo com olhos famintos. E ainda o espio dessa maneira: como se existisse sempre um buraco de fechadura pela frente para descobrir novas e interessantes possibilidades sobre o que me rodeia e além. E assim como Mariana, também fui uma criança encantada com a arte. Fazia desenhos e cartas "artísticas" para aqueles que caíam em minhas graças. Muito cedo também me encantei pela arte da comida, para desespero de Lalá que, depois de minhas aventuras culinárias, ficava encarregada de organizar tudo. A dança foi o que primeiro levei a sério. Aos oito anos tinha certeza de que seria bailarina. Dançava nas aulas, nos palcos, em casa, nos corredores, nas lojas. Dançava a vida. Depois que o balé ficou no passado, a música entrou em cena. Cheguei a fazer parte de uma banda e me dediquei por um tempo a aulas de canto. E, embora não cante mais em público, uma música certa, na hora certa ainda é capaz de salvar o dia.
Mas hoje penso no que povoou minha cabeça na minha infância como artista plástica e o que primeiro me vem a lembrança é uma tela que conheci no início de minha formação e que ainda considero uma das melhores: é o beijo de Klimt. Neste trabalho, o amor daqueles amantes perece transbordar e inunda o observador. A riqueza de cores e detalhes faz com que uma artista aficcionada pela cor como eu se renda ao desenho, as formas, à feminilidade que o autor imprimiu naquela tela. Pintado entre 1907 e 1908, é considerado a obra prima do período dourado de Klimt. Sofre influência da Art Nouveau e presença de elementos orgânicos. Atualmente, está no Museu Österreichische Belvedere, em Viena.
Ana Pires.
![]() |
O beijo ou Der kuss, Óleo sobre tela 180 X 180 cm |
Nenhum comentário:
Postar um comentário