sábado, 20 de abril de 2013

Memória e arte e vida e tal

Eu tava pensando, percorrendo os labirintos da memória... Foi numa disciplina de pintura. Deveríamos desenvolver uma pesquisa sobre o artesanato cearense. Pesquisar padrões de imagens de objetos artesanais e a partir daí criar pinturas abstratas. Descobri na renda de bilros desenhos que poderiam ser usados e comecei a pintar inspirada em suas tramas. Na disciplina seguinte  pesquisamos artistas, tendências, pensamentos para criar um projeto em pintura. O meu tinha como tema central a renda de bilros e a memória feminina. A partir daí estes dois elementos caminhariam juntos em minha produção artística por um bom tempo. Na época a minha memória foi também importante para a escolha deste tema. Me encantava na infância ver minha avó paterna fazer dançarem os bilros e, embalada pelos seus melódicos sons, ver os bicos de renda nascerem. Então as telas que criei tiveram o tempo como coadjuvante. Ficaram claras, desbotadas, gastas como os objetos expostos a passagem dos dias, dos anos. Renda e memória se confundem num turbilhão de sentimentos e histórias de mulheres que produziram e produzem renda, arte, vida. Minha memória e história estão presentes nos trabalhos desta fase de pesquisa de modo íntimo. Comecei a fazer trabalhos de grandes formatos. Me apaixonei por esses espaços que possibilitam que o ar circule, que a renda escreva, que a memória viva. Deixo hoje um desses primeiros trabalhos, quando comecei a namorar o universo das linhas que tanto  busquei entender enquanto dançavam nas mãos experientes de minha avó Nequinha.

Ana Pires.





Acrílico sobre tela 150 X 150






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