sexta-feira, 31 de maio de 2013

Esquadros

Ontem Mariana ouviu uma música e pensou no Traça, no quanto andamos por aí.
E escreveu assim:

Ando por aí esbarrando em cores, esbarrando em gente, espiando pelas janelas.
Ando por aqui despejando palavras e cores.
Ando pelo mundo procurando o caminho, muitas vezes em lugares distantes, carregando afetos e saudade.

Hoje, depois de ouvir a música, pensei em palavras que dizem "Dos esquadros e em-quadros" que fazemos...


Eu ando pelo mundo prestando atenção nas cores, formas e sombras e me perdendo nas esquinas, nas ruas e avenidas.

Ando vidrada na vida que passa, no balanço das árvores, nas serras lilases ao por do sol; sem me importar muito com o caminho que sigo, nem em encontrar a volta.

E guardo em compartimentos especiais as cores do lugar que cresci. Cores vivas, céu muito azul, mar verde esmeralda... E, embora guardadas, elas escapam sempre pra colorir minhas telas. É preciso me fazer forte pra escolher as cores suaves. Cores que vibram me tomam de assalto, me conquistam.

Vejo o mundo por janelas muito diferentes. Diferentes no jeito de olhar e no que vejo. As vezes o mar, as vezes cerrado, horizontes abertos e fechados...
Enquadro a vida pelas janelas e na tinta que ponho em meus quadros. 

As vezes a vida é feita de barro, queimada, esmaltada. Moldada com as mãos, desenhada em rendas, vista pelas frestas das múltiplas fechaduras que já abri e cerrei. Portas que ainda tenho pra descobrir...

Transito entre mundos possíveis e mundos intangíveis. Mundo de sentimentos, sensorial. Visão, tato, fome de arte, aroma de tinta, gosto de mar, barulho de nada. Mundo da vida cotidiana, da roupa no varal...

Piso a areia e caminho sobre folhas secas, ouço seu som e vejo as cores do indizível...






Inté,
Ana.




terça-feira, 28 de maio de 2013

Renda de brisa


Acrílico sobre tela 80 x 80 cm


Um dia ela olhou pro céu.

E mesmo com todo o calor

engoliu o azul.

Misturado ao vermelho,

nela tornou-se violeta.

A brisa correu dentro dela

e desenredou a renda.

Com a brisa veio o cheiro do mar.

Renda de brisa.

Suspira... 





Trabalho novo do traça e pequena poesia pra ela.

Inté! 

Mariana.





domingo, 26 de maio de 2013

Amigos,


O blog fez um mês e, ocupadas com a vida de traças, esquecemos de falar sobre isso. Tem sido muito bom o retorno. E para nós tem sido um processo desafiante pensar em cada post e, aos pouquinhos, mostrar o que estamos fazendo. Temos a sensação de que a parceria fica cada vez mais rica. Novas ideias surgem, novas telas, novas dimensões, novas cores, novas formas, novas palavras.

Algumas pessoas tem perguntado se as telas estão à venda e por isso resolvemos esclarecer que sim. Quem quiser ter maiores informações a esse respeito nos mande um e-mail para coletivotraca@gmail.com  

Nosso objetivo é montar uma exposição para mostrar o trabalho ao vivo e a cores. Quando data e local estiverem decididos, divulgaremos aqui no blog.

No mais, agradecemos a quem esteve por aqui com seus olhares e comentários. Agradecemos a cada “curtida” e cada compartilhamento.

A produção continua e logo mostraremos mais coisa nova por aqui! Continuem curtindo e compartilhando!

As traças agradecem a ajuda em divulgar nosso trabalho!

Uma semana cheia de luz e energia do mar!


Inté!


Foto: arquivo pessoal




quinta-feira, 23 de maio de 2013

Desenho


um desenho é só um desenho a cor do desenho a forma do desenho

o pensamento

a ação do desenho tem vida própria

não pertence mais

não existe

é

é coisa desenhada acontecida

o desenho é o momento a ação de desenhar

o resultado da ação de desenhar

o resultado da ligação do pensamento com a mão com o lápis com o papel

um desenho é um passo de uma caminhada

é o traço de um caminho reto tortuoso interrompido infinito

o desenho é uma sombra que entra pela janela

o desenho é o movimento da onda no mar do rio correndo da cachoeira das chuvas da água

o desenho é o vento na folha na areia no cabelo

o desenho é tom na música é a palavra

o desenho é a dança

o desenho não é

não acontece

existe

é

Giz de cera sobre papel

Mariana




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Era uma vez um barquinho pequenino...


Acrílico sobre tela 60 X 100 cm



Essa pintei pra morar numa casinha de pescador. E ela ficou muito grande pro lugar. Mas seu destino era morar na frente do mar, ouvindo o barulho das ondas, sentindo o cheiro de lá... Assim, ficou na praia, numa parede verde... E o barquinho vive ali, para sempre a navegar...


Até a próxima.
Ana Pires.


sábado, 18 de maio de 2013

Silêncio


 "Uso a palavra para compor meus silêncios."
Manoel de Barros 


Hoje, com tinta, sussurramos as cores para quem gosta de ver o mundo de azul...

Bom fim de semana!

Inté!



Acrílico sobre tela 70 x 120 cm








quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sintonia...


Ser mulher. Mãe. Artista. Aiai...

Na semana em que comemoramos o comercial dia das mães tivemos um encontro de mulheres muito interessantes!

Fiquei emocionada com a presença, mas principalmente com os olhares trocados, de carinho, de cumplicidade clara.

Passei dias com essa sensação rondando.

Cada uma com sua história, com sua forma, com sua cor.

Diferentes idades, amores, sabores e alguma dor.

É de verdade uma rede, nem todas que fazem parte dela estavam presentes. 

Mas estão sempre presentes em nós.

Nós traças fazemos parte dessa rede e muito nos alimentamos dela.

Será o acaso, ou estava escrito...

Nossas pesquisas nasceram lá atrás, do olhar para as mulheres.

Uma mulher na janela, uma mulher fazendo dançar os bilros.

Sem rosto elas podem ser todas, sem rosto elas podem ser eles.

Produzindo renda ou aconchegados a elas estamos todos nós.

Nós, mulheres e homens que partilhamos olhares, carinhos, histórias, cores, sabores e como não poderia deixar de ser alguma dor.

Mariana.

Mulher na janela



Sintonia é isso! 

Não deixo de pensar em quão feminina é nossa entrega mútua!!!

Nada como o universo feminino pra inspirar a entrega.

Eu te entrego, tu me entregas tua arte, teu amor, tua amizade...

E vamos roendo as bordas, colando o meio, fundindo versões de nós nesse entrelaçar que há muito transcendeu a tela e a tinta e o cotidiano! 

Ana.


Dança dos bilros acrílico sobre tela (150 x 100)






segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nosso canto


Temos recebido algumas visitas lá no nosso canto.
É interessante perceber os diferentes olhares, as opiniões tão variadas, o afeto...
Será esse o objetivo do artista, afetar?
As traças andaram nos últimos dias envolvidas com a vida cotidiana.
O trabalho tem sido tão intenso que o nosso canto acaba fazendo muita falta.
Talvez por isso hoje essa música.
O canto das traças deve ficar lá perto da esquina do sonho com a razão.
E onde quer que as traças andem o nosso cantinho há de ir!

E vamos à música:

“Dentro de cada pessoa
Tem um cantinho escondido...”







quarta-feira, 8 de maio de 2013

Celeste


É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançarina."

Nietzsche 

Assim somos as traças devorando nosso caos. 
Falamos muito do processo que vivemos, de tudo o que nos alimenta, tintas, palavras, sons, imagens, afeto...Poesia!  
Hoje é dia do Artista Plástico! Vamos comemorar com música e mostrando mais um trabalho. 

Acrílico sobre tela  - 50 x 120 cm 


Gil nos deu essa linda música com uma letra que é sempre lembrada lá no cantinho das traças!







terça-feira, 7 de maio de 2013

Sonhos

Os sonhos tem andado por aqui. 
Pinturas,desenhos, formas surgem...
Parece que abrimos uma portinha e soltamos as traças. 
Ao mesmo tempo muitas mudanças adiante. Como sempre! 
Mudança faz pensar em ciclo, em fim,em começo e faz também sonhar. 
Tempo. Sempre ele.

Posto hoje um trechinho do filme Sonhos de Akira Kurosawa. É só clicar e assistir aqui o último conto
Quem não viu procure e veja o filme inteiro. É lindo!



Fotografia do filme Sonhos

Esse conto ficou na memória desde a primeira vez que assisti o filme lá pelos quatorze, quinze anos.O grande impacto deve ter sido em plena adolescência ver aquela gente celebrando a morte. Festejando o fim de uma vida feliz. Era difícil de entender, mas ao mesmo tempo interessante! 
Pensei que seria bom se fosse assim... 
Hoje entendo meu espanto de menina. 
Ficou também na memória o colorido,a simplicidade da vida,o velho e o novo. O verde,o vento, a água, as flores. Um pouco adiante descobri a ligação de Kurosawa com as Artes Plásticas e fiquei encantada em pensar aquelas cenas coloridas em pintura, em aquarela, em desenho.

Anos mais tarde ao rever o filme penso entender melhor o que é celebrar uma vida bem vivida. Ver a morte ser tratada de forma leve e alegre segue sendo intrigante...Um desafio.Principalmente quando ela chega de forma inesperada, o velho diz que é difícil celebrar uma morte assim.
Espero poder aprender a celebrar a vida bem vivida e seguir traçando, pintando e desenhando com suas cores, sombras, alegrias e quedas. 
Aprender a admirar o caminho cheio de mudanças e ciclos, de cores e de água correndo. 

Mariana


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Criar, refazer, recriar...

Ainda pensando sobre o nosso processo de criação, olhando nossos escritos, nos deparamos com anotações destacadas do livro de Cecília Salles chamado Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1998. Do texto de Cecília, pinçamos uma fala de Picasso acerca de seu processo de criação que muito nos envolveu e que, portanto, compartilhamos hoje:
"Os quadros são uma soma de destruições. Eu faço uma pintura e em seguida a destruo. Mas nada é perdido. O vermelho que retirei de um lugar qualquer pode ser encontrado em uma outra parte do quadro. Explica Picasso (1985). [...] O processo criador é um percurso com um 'objetivo a atingir, um mistério a penetrar'. A intenção do artista é por obras no mundo. Ele é, nessa perspectiva, portador de uma necessidade de conhecer algo, que não deixa de ser conhecimento de si mesmo, [...] cujo alcance está na consonância do coração com o intelecto. desejo que nunca é completamente satisfeito e que, assim, se renova na criação de cada obra." (p.13-31)

Esta tela é resultado de um processo de ir e voltar, esperar..., de pintar e destruir, criar, refazer, recriar...


Acrílico sobre tela 120 x 80cm



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Poesia, alimento da alma

Temos pensado muito sobre nós, mergulhadas que estamos no nosso processo de criação. E criar é trazer pra fora o lado de dentro. É virar do avesso, é despir a pele, é saciar a fome de parir o belo, é respirar as cores e digerir formas, saltar invernos, acender o ar: poetizar.
E, poetizando, pintei com palavras meu Auto retrato:

Vivo do amor mais profundo
Sofro da mais pura dor
Sou fogo laranja
Sou céu muito azul em dia quentíssimo de verão
Sou nuvem carregada
sou raio e trovão
Sou tornado
Sou onda que transforma a paisagem, castiga pedras
Sou frio intenso
Minha paleta desconhece os cinzas, os opacos, os médios tons
Vivo porque vibro
Meu amor é épico, imensidão
Meu descontentamento, noite escura
Quando choro inundo a alma, o solo, o mundo
Sou calmaria, vácuo
Subo aos mais altos picos
Mergulho profundezas abissais
Sou o extremo, o absurdo, o exagero
Meu nome é intensidade
Marco a vida a ferro incandescente
Guardo memórias em porta jóias
Distribuo bondade aos peixes
Meu desejo percorre países, continentes
Não quero a racionalidade
Eu dobro, não ando
Minha existência se encerra em um músculo: tum, tum, tum.

Para alimentar-vos de poesia, que é a vida mesma, hoje compartilho uma entrevista de Adélia Prado na qual ela passeia pelo conceito de arte e processo de criação artística primorosamente.

Até a próxima.
Ana Pires.